10 de fevereiro de 2016

A Regra do Jogo é a versão plus de Avenida Brasil



Faz muito tempo que eu não apareço por aqui, mas hoje decidi, e por uma causa justa: Vim falar sobre a atual novela das 21h da Rede Globo: A Regra do Jogo, que tinha o nome provisório Favela Chic, mas mudou (felizmente), contudo, certas partes da trama teriam muito mais a ver com o titulo, e logo explico por que.
Antes de mais nada, a novela é assinada - e foi assim vendida nas chamadas - pelo mesmo autor de Avenida Brasil, o último grande sucesso da faixa das 21h e que mostrou que embora as más linguas defendam o contrário, a telenovela ainda tem um potencial enorme com o grande público. João Emanuel Carneiro assinou Avenida Brasil (aqui http://jornaltv.blogspot.com.br/2012/08/o-sucesso-avenida-brasil.html eu comentei sobre a trama no tempo que o blog era ativo). O mote de Avenida Brasil? A Vingança, uma trama central bem articula, bem escrita, com bons atores, bons personagens e realmente boa. Problemas de Avenida Brasil, listei vários na minha postagem, mas o principal eram: a condução das tramas paralelas.
O que acontece em A Regra do Jogo? Tudo que acontecia em Avenida Brasil ganha uma versão plus, pro bem, e pro mal.
Ou seja, A Regra do Jogo apresenta uma trama central igualmente forte e bem articulada. O ex-vereador Romero Rômulo (brilhante caracterização de Alexandre Nero) finge que ajuda todo mundo, mas na verdade é um bandido que finge ser uma coisa mais é outra. Ele é filho de Djanira (Cassia Kis), mas a relação dos dois está abalada, o plot inicial se dá quando Toia (Vanessa Giácomo), filha adotiva de Djanira, é presa após roubar o dinheiro da boate de Adisabeba (Suzana Vieira), onde trabalha, a mocinha rouba o dinheiro pois precisa pagar a cirurgia de sua mãe, Djanira desesperada procura Romero para tirar a filha da cadeia. Tóia é noiva de Juliano (Cauã Reymond), que sai da cadeia após pagar um crime que não cometeu, Juliano é filho de Zé Maria (Tony Ramos). Zé Maria é perseguido pelo policial Dante (Marco Pigossi), que acredita que Zé o responsável pela morte de sua mãe biológica na chachina da Serropédica, na qual Romero também esté envolvido. Há ainda a presença de Orlando (Eduardo Moscovis) um bandido que se envolve com Nelita (Barbara Paz) a filha de um grande milionário: Gibson (José de Abreu) e Atena (Giovana Antonelli), uma mulher que vive de pequenos golpes e acaba cruzando o seu caminho com o de Romero. Romero na verdade, assim como Orlando, trabalham para uma facção criminosa (que interliga grandes pontos da narrativa e explica a relação entre cada um dos personagens). Há, faltou comentar que Dante é filho adotivo de Romero com Kiki (Debora Evylin) irmã de Nelita, filhas de Nora (Renata Sorrah).
A união de Romero e Atena impulsiona a trama (e no caso, se bem me recordo até os dois se unirem de fato levou-se duas semanas contando as demais histórias), e Romero - dividido entre o bem e o mal - também se envolve com Tóia, aí cada uma das duas vai convencer o mocinho a seguir o lado ou do bem ou do mal, Romero é um personagem dúbio, ora mal, ora bom e muito bem defendido por seu interprete.
Ou seja, tudo de bom que tinhamos em Avenida Brasil, temos em A Regra do Jogo, inclusive uma certa enrolação caracteristica das novelas em geral, por mais de 100 capitulos não sabemos quem é o chefe da tal facção criminosa, quando descobrimos que trata-se de Gibson, a enrolação aumenta e criam-se situações absurdas para que a facção não seja desmontada: pudera, parece que se a facção cai acaba a história da novela.
Contudo, a direção segura de Amora Mautner e o roteiro - com vários furos, é bem verdade - inteligente e com atuações seguras deixa a enrolação um pouco mais palatável. Contudo, se em Avenida Brasil tínhamos uma mocinha inteligente, contudo, enfadonha, temos em A Regra do Jogo uma mocinha burra que é facilmente enganada conforme o roteiro exige: Tóia, não, a culpa não é da excelente Vanessa Giácomo, e sim do roteiro que a transforma numa personagem tola conforme é pertinente para o seu caminhar, ou seja, por mais da metade da novela Tóia é enganada por Romero e nem desconfia que ele é da facção criminosa, e acaba se casando com ele. O mesmo tratamento se aplica ao personagem de Marco Pigossi, de novo, a culpa não é do ator: Marco demonstra uma segurança muito grande defendendo o policial Dante, mas o pobre infeliz nem desconfia que seu pai é um bandido e seu avô é o chefe da facção criminosa.
Então, os problemas da trama central de Avenida Brasil são ampliados em A Regra do Jogo, mas ainda assim com a qualidade assegurada, na semana passada Dante e Tóia descobriram que estava na frente da corrida dos imbecis e a novela deu uma boa virada, Tóia ganhou ares de mocinha vingativa e ao lado de Dante desmascararam Romero em público.
O maior problema da trama está nos núcleos que justificariam o titulo de Favela Chic: a trama dos funkeiros, a familia de Feliciano (Marcos Caruso) primo de Gibson, e as tramas que envolvem o Morro da Macaca, a favela onde Tóia mora. Se em Avenida Brasil tínhamos um núcleo duro de engolir, aqui temos pelo menos 3, o que torna metade dos capítulos duros de engolir, ou seja, a sensação que fica é que as tramas paralelas estão lá para preencher espaço, encher linguíça.
Se Avenida Brasil inovava na linguagem, A Regra do Jogo também inova, não só na fotografia com tons dark, mas com o encerramento dos capitulos: os personagens congelam num tom dourado, não virou a febre do encerramento de Avenida Brasil, mas realmente chama atenção, assim como a ideia dos capitulos terem nome, assim como nas séries americanas.
Se Avenida Brasil tinha Carminha, A Regra do Jogo tem Romero e Atena, com dois interpretes muito bem escalados, Giovanna Antonelli segura a personagem de língua ferina muito bem e a sua relação com Romero é bem trabalhada, e com mocinhos tão tontos fica fácil torcer pelos vilões, não é?
Alexandre Nero, que vem de Império de Aguinaldo Silva com um personagem igualmente marcante, em nada lembra o comendador, nem de longe, o ator construiu um Romero crível, realmente em dúvida se é bom ou mal e para além disso, nas cenas em que o personagem foi desmascarado o ator segurou bem a bola e chegou a compadecer o telespectador.
Se temos uma direção segura e atores bons representando, o resultado final é até satisfatório, o que temos em A Regra do Jogo é uma versão plus de Avenida Brasil, todos os elementos da outra trama aparecem aqui, os bons - melhorados - e os ruins - piorados. No final sobra uma novela muito boa, mas que podia ser muito melhor. Talvez a próxima novela dos criadores de Avenida Brasil seja. Aguardai.



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